terça-feira, 26 de maio de 2009

O brinde da rainha




Parece papo feminista, mas não é. Até porque toda palavra que termina em ista tem conotação extremista, senão vejamos: as palavras machista, escravagista, abolicionista, até extremista, mesmo. Não, decididamente não é feminista. É antes de tudo e de mais nada um papo sobre a feminilidade, dócil, sutil, bela, como todas as mulheres o são.

Os homens que me perdoem, mas não podem deixar de se renderem à grandeza de que as mulheres estão conquistando cada vez mais seu espaço. E o mais engraçado é que os homens estão querendo ocupar os espaços delas, talvez até numa auto-afirmação de que eles são melhores em tudo.

Uma notícia que me chamou atenção foi a de as mulheres serem a maioria nas faculdades da área de saúde, sendo que só em Educação Física, os homens lideram o ranking. Porém, em todas as outras carreiras dessa área, incluindo Fisioterapia, elas estão lá, superando em número, os homens.
Partindo do pré-suposto que o nosso melhor Ministro da Fazenda foi médico, nosso presidente mais ousado foi médico, poderemos aguardar para a próxima década uma Ministra ou Presidenta oriunda da saúde. E olha que já estamos bem perto disso, afinal de contas Jandira Fegalli é nome certo no PC do B - médica- e Heloísa Helena do PSOL – enfermeira -, a primeira, já foi candidata ao governo do estado do Rio de Janeiro e a segunda, está-se lançando candidata a Presidência da República Federativa do Brasil.
Não, não… não sou cabo eleitoral de nenhuma das duas, aliás o que me separa delas são as minhas próprias ideologias. Mas sou simpatizante de algumas de suas idéias. Das duas.
Não podemos esquecer que a Ministra-Chefe da Casa Civil é mulher e a Presidente do Supremo Tribunal de Justiça é outra.
Sim, estamos passo a passo, chegando lá. E cada mulher que consegue se expressar publicamente, gerir, administrar, opinar, ajudar a decidir, sinto como se fosse eu mesma lá.
Quando vejo as espinafrações da Heloísa Helena, pequena, de jeans e camiseta, cara limpa, botando o dedo no nariz de um parlamentar, vejo que ela realmente não agüenta mais. Ou quando vejo a Jandira movimentando massas contra a violência doméstica e em especial contra a mulher, me emociono, sinto que temos futuro e que nem tudo está perdido.

Agora, o que me dá a certeza de que os papéis se inverterão num futuro bem próximo, é quando vejo o movimento gay cada vez maior; o aumento do número de transexuais, drags queens; ou quando vejo inúmeras revistas de homens pelados, e outros sinais de que os homens estão-se cansando dessa estória de que o poder está no poder. Pois os mais poderosos de todos os homens de qualquer cultura, nação, filosofia, raça, credo e não sei mais o quê que o faça deter o poder, sempre caíram ante uma mulher.

A frágil, a inútil, a mera figura - que, ou flui em seu interior, ou ressoa do mundo exterior.
Bill Clynton caiu por uma estagiária e foi sustentado no poder pela primeira-dama. Entre duas mulheres, sucumbiu.
Marco Antônio caiu devido a sua paixão por Cleópatra, quando a colocou acima dos anseios de Roma.
As orgias sexuais da Volkswagen no Brasil foi um escândalo mundial e seu staff brasileiro foi para o paredão.
As meninas da Mary Corner fizeram Brasília mesclar dinheiro, sexo e poder como nos romances de Harold Robins, provocando quedas memoráveis de políticos já envolvidos em outros escândalos, como o Mensalão, Correios, Restaurante e estavam lá as meninas da Mary.
Até Salomão, aquele que foi o mais sábio de todos os homens, o mais poderoso, perdeu sua glória ante o Senhor, por causa das mulheres.

Aí, me vem à memória uma frase do psicanalista Flávio Gikovate no livro “Homem, sexo frágil?” onde ele afirma que os homens têm inveja das mulheres, do seu poder de sedução natural e que eles próprios gostariam de ser assim tão desejados, vistos como objetos sexuais.
Legal, gostei dessa colocação porque partiu de um homem, que não é machista e nem gay.
Por outro lado, num outro livro li outra coisa que igualmente mexeu com minha curiosidade: “O Código da Vinci” de Dan Brown, descrevendo os monumentos históricos pelo mundo afora.
Nessa fase, o personagem queria convencer o leitor que a Igreja Católica, em especial a Opus Dei, anulando a figura de Maria Madalena e seu relacionamento com Jesus, lançasse vários sinais pelo mundo mostrando que só o homem prevaleceria perante a Vontade de Deus. Nesse ponto menciona os monumentos e os compara a falos, enormes falos, exaltando a supremacia masculina.

Não é que é verdade mesmo? Se observarmos os chafarizes é o que vemos: grandes falos eretos e alguns deles jorrando muita água, o que se pode comparar a uma ejaculação, farta e abundante, já que não pára nunca. À noite são iluminados, dando a impressão de intumescimento latejante. É realmente interessante.
Parece ou não parece auto-afirmação?
Será mesmo que os homens têm assim tanto medo das mulheres?
Tanto medo que precisem demarcar seu território como os cães ou outros machos de todas as espécies? Será?

Bem, deixa para lá, enquanto isso, nós mulheres, vamos vencendo nossas batalhas pequenas e decisivas como, por exemplo, melhorando cada vez mais nossa capacidade de lutar contra o mês que insiste em continuar, mesmo depois que o dinheiro já acabou; de exercer dupla jornada; de tentar punir nossos agressores, que pagam seus crimes fornecendo cestas básicas a instituições de caridade; de darmos os poucos bens que possuímos ou abrindo mão de direitos inalienáveis pelo simples prazer de deter a liberdade; e o mais importante para qualquer mulher, a grande capacidade de dizer um monossílabo: NÃO.

Somos nós, mulheres, que inspiramos os homens sempre.
É sempre em função de nós que eles vivem, cada um com seu objetivo. Seja para conquistar-nos, destruir-nos, copiar-nos, esquecer-nos. Não importa. A mulher é sempre o ponto zero e o ponto infinito das retas traçadas pelo homem.
Somos, portanto, rainhas. Brindemos a isso.


Raquel Bittencourt
Rio, 29 de março de 2006.

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